segunda-feira, 10 de junho de 2019

Queremos ser únicos


Queremos ser únicos, especiais. Repudiamos o tratamento massificado, o script decorado, o atendimento despersonalizado.

Tratamento singular. É isto que indica nosso sucesso e aceitação como distintos.

A fila é a imagem do popular, dos que não fazem parte deste universo dos eleitos.  Os únicos têm seu tratamento especial, apartado das filas.

São cartões diamond, black, clientes “Leonardo da Vinci”, salas vips, camarotes com espumantes em um andor pirotécnico anunciadas em procissão.

Se relacionamento é tudo então usamos e abusamos de alguém que possa nos tirar da consideração anônima, que nos eleve ao posto de conhecido do fulano que há de nos criar uma condição “diferenciada”.

Aliás “diferenciado” é palavra contemporânea no Brasil, tal qual fora o purê de mandioquinha como acompanhamento moderno nos cardápios. O termo diferenciado tem uso martelado nos mais diversos ramos, do futebol ao cachorro quente da esquina.

Maslow reencarnado e testemunhando um dia destes poderia pensar em inverter sua pirâmide iniciando pela autorrealização.

Ao menor destrato, fisiológicos, nossos pelos crispam, o canino se pronuncia e vociferamos: “- me chame o supervisor, o gerente, o dono...”.

Queremos ser identificados, reconhecidos. Orgulhamos do olhar solicito do “maître” que nos reserva aquela mesa especial e o garçom que nos chame pelo nome e pergunta:  “- o senhor vai querer o de sempre ?”, denotando intimidade guardada para os distintos.


Só abrimos mão do status quando o desejo é incontrolável ou o custo for baixo o suficiente para nos empurrar para remar no andar de baixo de um galeão espanhol.

Admitimos nosso “populesco” na promoção imperdível, na black friday, na fila do lançamento do novo gadget eletrônico, ou no anonimato em viagens pelo exterior, perambulando tresloucados nos outlets, enchendo sacolas.

No final do dia somos todos muito parecidos em nossa busca pelo singular. Quem nos ofertar um tratamento único ganhará nossa atenção e motivação em estabelecer vínculos, amizades e negócios.

No cotidiano que nos atropela sempre buscaremos forças na autoestima, no resgate de nossa confiança e na renovação da vitalidade. 

Se assim buscamos faz sentido assim ofertarmos.

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