EUA 2003
A abertura dá reunião foi a esperada para um evento com
os executivos de diversas unidades ao redor do mundo: low-profile, petit comité, domô
arigatô goizaimás. Sendo uma gigante
corporação internacional, e de origem japonesa, o comportamento pautava-se pela
discrição e tom comedido.
Quando chegou a sua vez o CIO inglês começou a apresentação com fotos pulando na tela e o PowerPoint emitindo um som
altíssimo com o refrão da música da banda Baha Men: "who let the dogs out..."
E lá foi ele pela introdução apresentando seus cães e
sua família.
Mal conseguia conter meus risos diante do espanto dos
executivos acostumados ao cerimonial oriental.
Depois de diversas fotos e piadas, incluso algumas
sobre sua pança e falta de cabelos, finalmente os assuntos corporativos tiveram
sua vez, e não sem conteúdo ou profundidade. A estas alturas a platéia estava, impactada
pela ousadia, sem piscar, tomada pela velocidade de imagens e palavras.
De longe foi a melhor do dia. Depois dela nada poderia ser tão interessante.
Algum tempo depois voltei a encontrar este executivo
em Londres, agora em seus domínios, onde em uma sala do prédio principal
organizávamos um outro evento para as áreas de logística da Europa. Nos
encontrou para uma breve passagem para cumprimentos.
Em uma semana de problemas em seu principal sistema,
estava menos inspirado, mas aquela auto confiança e olhar de quem está 1 hora adiante
do pensamento mediano estavam lá, impávidos.
Ano mais tarde eu estava em Tóquio e subitamente fui
convocado para estar em uma reunião com o CIO global, algo fora do roteiro
daquelas semanas planejadas de trabalho.
Um tanto apreensivo fiquei a pensar no comportamento
mais adequado, ainda mais ciente do requerido misancene nipônico.
Por certo, sendo estrangeiro e de uma consultoria externa,
não executaria por completo toda a saudação japonesa. Como demanda a boa educação e respeito
a hierarquia, o inclinar-se nestes casos vai quase até o chão. Não trata-se de
exagero. Presenciei casos de deixar qualquer alongamento até o pé parecer
amador.
Então me lembrei do Sir WhoLetTheDogsOut e fiquei
imaginando se seria capaz de similar ousadia.
Final das contas fui previsível, atendi a reunião mantendo o tom
respeitoso, com uma leve inclinada e um bom dia na língua local. Optei pela
objetividade e tudo acabou muito rápido, como manda ser a missa para gente com
agenda cheia.
Na saída a imagem dos cachorros e aquela música ainda
martelavam na minha cabeça: who let the dogs out...
Leve riso no canto do rosto, larguei dos cachorros e alternei
meu pensamento naquele senhor japonês e seu alto cargo, tamanha deveria ser a distância entre
as decisões aquarteladas e o dia a dia das operações. Quais seriam suas
habilidades que o levaram até lá? Por certo não eram mais as mesmas que
precisava para manter-se no cargo.
Portanto, para não estagnar e ensimesmar-se: let the dogs out.
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