sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Além da Grande Teia


A revolução digital de fato se deu quando, mais do que a disponibilidade e velocidade da informação, trouxe mudanças na relação entre pessoas, das empresas com as pessoas e em medida menor, do estado com cidadãos.

A idéia da www, circunscrita inicialmente a livre informação, se tornou a mola propulsora, o prenuncio não imaginado de um novo jeito de se relacionar, fazer negócios e lazer. Basta olhar o entranhamento de mídias sociais e mercado consumidor.

A grande teia não se restringe.

O Marketing jamais foi tão sociológico.
A política nunca antes se imaginava digital, realidade e futuro, muito mais efetiva do que aquela ligação telefônica sem graça gravada pelo candidato lhe dando um olá. 

A via mais importante não é a do destino, mas a do retorno, saber o que o eleitor pensa e deseja ouvir e não o que o político pretende falar.

A grande teia se tornou mais do que observar um lugar longínquo que pode estar ao alcance dos dedos.

O propósito é transformar, influenciar, agir, saber o que o outro pensa e deseja.

Diante da derrocada dos sistemas políticos , da crise da globalização e o nacionalismo intolerante, possamos imaginar algo além da grande teia e desta primeira revolução digital: aquela que mudará visceralmente a relação das pessoas com o estado e a justiça.

Seria possível uma conectividade que pudesse expressar o desejo da coletividade e participação ativa nas decisões?

Poderíamos retirar a validade do nosso representante quando este contrariasse o ponto de vista de seus eleitores?

Os processos jurídicos poderiam ser analisados preditivamente e acompanhados tal qual um workflow logístico que entrega a encomenda na sua residência?

Participação total ou anarquia de desejos, ápice dos sintomas efêmeros já vividos?

Além da grande teia haverá uma luz ou um falso brilho de um pop-up?




sábado, 11 de fevereiro de 2017

O CIO que ousou pra cachorro

EUA 2003

A abertura dá reunião foi a esperada para um evento com os executivos de diversas unidades ao redor do mundo: low-profile, petit comité, domô arigatô goizaimás.  Sendo uma gigante corporação internacional, e de origem japonesa, o comportamento pautava-se pela discrição e tom comedido.

Quando chegou a sua vez o CIO inglês começou a apresentação com fotos pulando na tela e o PowerPoint emitindo um som altíssimo com o refrão da música da banda Baha Men: "who let the dogs out..."

E lá foi ele pela introdução apresentando seus cães e sua família.

Mal conseguia conter meus risos diante do espanto dos executivos acostumados ao cerimonial oriental.

Depois de diversas fotos e piadas, incluso algumas sobre sua pança e falta de cabelos, finalmente os assuntos corporativos tiveram sua vez, e não sem conteúdo ou profundidade. A estas alturas a platéia estava, impactada pela ousadia, sem piscar, tomada pela velocidade de imagens e palavras.

De longe foi a melhor do dia. Depois dela nada poderia ser tão interessante.  

Algum tempo depois voltei a encontrar este executivo em Londres, agora em seus domínios, onde em uma sala do prédio principal organizávamos um outro evento para as áreas de logística da Europa.  Nos encontrou para uma breve passagem para cumprimentos.

Em uma semana de problemas em seu principal sistema, estava menos inspirado, mas aquela auto confiança e olhar de quem está 1 hora adiante do pensamento mediano estavam lá, impávidos.

Ano mais tarde eu estava em Tóquio e subitamente fui convocado para estar em uma reunião com o CIO global, algo fora do roteiro daquelas semanas planejadas de trabalho.

Um tanto apreensivo fiquei a pensar no comportamento mais adequado, ainda mais ciente do requerido misancene nipônico.

Por certo, sendo estrangeiro e de uma consultoria externa, não executaria por completo toda a saudação japonesa. Como demanda a boa educação e respeito a hierarquia, o inclinar-se nestes casos vai quase até o chão. Não trata-se de exagero. Presenciei casos de deixar qualquer alongamento até o pé parecer amador.

Então me lembrei do Sir WhoLetTheDogsOut e fiquei imaginando se seria capaz de similar ousadia.  

Final das contas fui previsível, atendi a reunião mantendo o tom respeitoso, com uma leve inclinada e um bom dia na língua local. Optei pela objetividade e tudo acabou muito rápido, como manda ser a missa para gente com agenda cheia.

Na saída a imagem dos cachorros e aquela música ainda martelavam na minha cabeça: who let the dogs out...

Leve riso no canto do rosto, larguei dos cachorros e alternei meu pensamento naquele senhor japonês e seu alto cargo, tamanha deveria ser a distância entre as decisões aquarteladas e o dia a dia das operações. Quais seriam suas habilidades que o levaram até lá? Por certo não eram mais as mesmas que precisava para manter-se no cargo.

Um excepcional executivo deve-se manter-se inovador e conectado ao dia a dia, porque o natural de todos nós é ser mais cauteloso a medida que o tempo avança e nossas conquistas aumentam. 

Portanto, para não estagnar e ensimesmar-se: let the dogs out.