A curva maior de desenvolvimento
nos últimos anos, motivada pelo aquecimento da economia mundial e o claro
aumento da demanda interna, fez o país esquecer algumas lições de casa na
gaveta, feito as mazelas de Carminha, escondidas no passado de nossa “Avenida
Brasil”.
Com a desaceleração da economia
mundial e prenúncio de uma velocidade menor da locomotiva chinesa, voltamos nossos olhos para a gaveta reaberta e questões fundamentais de nosso crescimento:
infra-estrutura, reforma tributária, produtividade e inovação, todas elas partes
do que nos acostumamos a chamar de Custo Brasil.
Ainda que fortalecidos por iniciativas
privada ou público-privadas, os dois primeiros componentes possuem uma
dependência do estado e de articulações políticas muito grandes, restando às
empresas agir com mais vigor no terreno da produtividade e inovação.
Fator revelador de recente
levantamento* indica que nossa produtividade pouco mudou dos anos 70 para cá e
que, se por um lado ainda continuamos muito longe dos países de primeiro mundo,
pelo outro estamos perdendo terreno para os emergentes.
Fatores como perfil de nossa
manufatura e insuficiente investimento em tecnologia de ponta explicam só parte
do santo e muito pouco da falta de milagres. Segundo outra fonte**, chama à
atenção a avaliação das empresas de que, para melhorar a produtividade em quase
metade (44%) de seus problemas, seriam suficientes os investimentos em
educação, inovação e desenvolvimento tecnológico. Enorme oportunidade, mas que necessita ações
efetivas.
Sabemos por modelos de outros
países desenvolvidos que a aproximação dos centros de pesquisas e universidades
da iniciativa privada em muito pode contribuir para melhoria deste cenário. No campo da educação formal esta
equação não se resolve somente no atual modelo de nossas escolas e universidades.
Isto exige um esforço extra das entidades tradicionais de ensino em seus cursos
regulares, especializações e de corporações que investem em capacitação
complementar.
Existe conhecimento
desperdiçado dentro das empresas e muitas oportunidades de aperfeiçoamento
profissional em cursos de curta duração com aplicação prática no dia a dia das
organizações. O modelo alemão que valoriza o ensino técnico em níveis
intermediários do ciclo educacional com ampla parceria com as empresas muito
pode nos ser útil, também apoiando os jovens no direcionamento e reconhecimento
de suas aptidões.
Iniciativas desta natureza promovem
a geração de mais riqueza por funcionário, reduzem o visível déficit atual de
especialistas e pressão por salários inexeqüíveis que agrava um quadro de
desequilíbrio de margens das nossas companhias, tornando-as menos competitivas.
Fazendo um contraponto sobre escolha
de ações para melhorar competitividade, pode-se levantar o exemplo das reduções
de custos com as reduções de tarifas, como a recente iniciativa no setor
elétrico, ou os cortes setoriais de impostos como o IPI. Contudo, seja pelo caráter temporário ou
dissipativo, seus impactos positivos irão se diluir em horizonte breve.
Distintamente, para um
crescimento sólido e consistente ao longo do tempo, evidencia-se que os
investimentos em capacitação e inovação são chaves para o aumento da
produtividade e da conseqüente competitividade externa. Evitamos assim deixar
nossas empresas e nosso PIB ancorados somente no crescimento de nosso mercado
interno, pela acomodação das classes e em variáveis conjunturais, geralmente sazonais
e algumas vezes fugazes.
Não só asfaltando e pintando faixas
no chão, mas desenvolvendo pessoas, profissionais especialistas, é que nos
levará a uma viagem maior para além da Avenida Brasil tal qual a conhecemos hoje.
Paulo
Novembro 2012
* Fonte: BCG e IPEA
**Fonte: Revista Exame