domingo, 4 de novembro de 2012

A Produtividade e a Educação na “Avenida Brasil”



A curva maior de desenvolvimento nos últimos anos, motivada pelo aquecimento da economia mundial e o claro aumento da demanda interna, fez o país esquecer algumas lições de casa na gaveta, feito as mazelas de Carminha, escondidas no passado de nossa “Avenida Brasil”.

Com a desaceleração da economia mundial e prenúncio de uma velocidade menor da locomotiva chinesa, voltamos nossos olhos para a gaveta reaberta e questões fundamentais de nosso crescimento: infra-estrutura, reforma tributária, produtividade e inovação, todas elas partes do que nos acostumamos a chamar de Custo Brasil.

Ainda que fortalecidos por iniciativas privada ou público-privadas, os dois primeiros componentes possuem uma dependência do estado e de articulações políticas muito grandes, restando às empresas agir com mais vigor no terreno da produtividade e inovação.

Fator revelador de recente levantamento* indica que nossa produtividade pouco mudou dos anos 70 para cá e que, se por um lado ainda continuamos muito longe dos países de primeiro mundo, pelo outro estamos perdendo terreno para os emergentes.

Fatores como perfil de nossa manufatura e insuficiente investimento em tecnologia de ponta explicam só parte do santo e muito pouco da falta de milagres. Segundo outra fonte**, chama à atenção a avaliação das empresas de que, para melhorar a produtividade em quase metade (44%) de seus problemas, seriam suficientes os investimentos em educação, inovação e desenvolvimento tecnológico.  Enorme oportunidade, mas que necessita ações efetivas.

Sabemos por modelos de outros países desenvolvidos que a aproximação dos centros de pesquisas e universidades da iniciativa privada em muito pode contribuir para melhoria deste cenário. No campo da educação formal esta equação não se resolve somente no atual modelo de nossas escolas e universidades. Isto exige um esforço extra das entidades tradicionais de ensino em seus cursos regulares, especializações e de corporações que investem em capacitação complementar. 

Existe conhecimento desperdiçado dentro das empresas e muitas oportunidades de aperfeiçoamento profissional em cursos de curta duração com aplicação prática no dia a dia das organizações. O modelo alemão que valoriza o ensino técnico em níveis intermediários do ciclo educacional com ampla parceria com as empresas muito pode nos ser útil, também apoiando os jovens no direcionamento e reconhecimento de suas aptidões.

Iniciativas desta natureza promovem a geração de mais riqueza por funcionário, reduzem o visível déficit atual de especialistas e pressão por salários inexeqüíveis que agrava um quadro de desequilíbrio de margens das nossas companhias, tornando-as menos competitivas.

Fazendo um contraponto sobre escolha de ações para melhorar competitividade, pode-se levantar o exemplo das reduções de custos com as reduções de tarifas, como a recente iniciativa no setor elétrico, ou os cortes setoriais de impostos como o IPI.  Contudo, seja pelo caráter temporário ou dissipativo, seus impactos positivos irão se diluir em horizonte breve.

Distintamente, para um crescimento sólido e consistente ao longo do tempo, evidencia-se que os investimentos em capacitação e inovação são chaves para o aumento da produtividade e da conseqüente competitividade externa. Evitamos assim deixar nossas empresas e nosso PIB ancorados somente no crescimento de nosso mercado interno, pela acomodação das classes e em variáveis conjunturais, geralmente sazonais e algumas vezes fugazes.

Não só asfaltando e pintando faixas no chão, mas desenvolvendo pessoas, profissionais especialistas, é que nos levará a uma viagem maior para além da Avenida Brasil tal qual a conhecemos hoje.


Paulo
Novembro 2012

* Fonte: BCG e IPEA
**Fonte: Revista Exame